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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

arrolando o testamento

a primeira deixo retratos quando garoto para sempre guardar o rosto angelical, amor ingênuo e curioso, primeiros erros que proporcionaram os outros que se sucederam. a segunda deixo as marcas da idade, acnes e a imaturidade do corpo ainda em desenvolvimento, o explorar o outro na escuridão da descoberta em baixo dos lençóis. a terceira a aventura de ir alem, experimentar sem medir consequencias, boas risadas e historias intensas. a quarta meus primeiros versos, rimas em a de suspiros contínuos e insuficiência de oxigênio para respirar, o sufoco de possessão de amor, a primeira comunhão, sucedida pela difícil separação. a quinta deixo minha leviandade ao acreditar que tudo pode durar para sempre ainda sem saber que o para sempre dura apenas o segundo do presente momento, fique para essa também as desculpas por dificultar, volta a ingenuidade dessa vez na forma de se pensar, imaturidade na maneira de agir, obrigado por você ter existido para mim. a sexta deixo como em uma mesa de bar, minhas melhores historias, minhas melhores risadas, minhas melhores atitudes ate então, deixo para ela a permissão de ir embora sem despedida e sem um motivo real para tal decisão. a sétima deixo a soma positiva do que adquiri ao multiplicar o bom senso e a forma de se relacionar, apos entender o amor a essa fica entregue toda a minha vontade, meu desejo. a oitava deixo o amor fugaz, intensa vontade, território sexual, o corpo entregue para seu deleite. a nona fica a subtração das desilusões, o mal feito pelo desfeito anterior, nostalgia que dominou e não permitiu seguir em frente naquele instante imperfeito de ser ter um amor. a décima guarde meu nome: Julio Andrade, caso tenha essa imensa vontade (assim como eu) de ter alguma lembrança do que aconteceu, ou ao menos lembrar o nome de com quem aquilo tudo se viveu. a décima primeira fica em segredo, o pecado, o crime sem vitima, sem vilão, o assalto em que tomamos os nossos corações. a décima segunda tens de saber que deixo minha espera de um regresso seu, doei minha vida, sem peso e sem medida, fica o dito pelo incerto da certeza que ainda lhe espero.
cada uma dessas divisões são partes de um todo único, os ponteiros de um único relógio marcando as horas de uma única historia, o plural em e para uma única pessoa. a esse instante deixo meu testamento dizendo que fui pro lado de lá, viver sabendo que para passa tempo o tempo tende a passar, fica o importante, intenso e o que tenho para oferecer. as lembranças, essas não ficam, essas esvaeceram. esse relógio vai pra marca de treze horas. espero agora apenas um papel em branco para endossar o meu destino, siga ele por onde for, com mais doze outras longas horas de muitas formas de amor.

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